02 janeiro 2010

22 setembro 2009

LUIZ GARCIA

Boca no trombone

O Globo - 22/09/2009


O poder corrompe. Não se trata de descoberta recente, nem localizada.

O exercício de mando e comando sempre teve esse efeito na história recente do planeta — entendendose por recente o tempo de sua dominação por bípedes de poucos pelos.

Passando das generalidades pomposas e sem graça para problemas específicos e relativamente recentes da história política do Brasil, talvez não seja otimismo exagerado registrar que a opinião pública começa a dar sinais de irritação com a desonestidade excessiva nos centros de poder. É como se, para o pessoal da arquibancada, um certo grau de abuso e desmando pode ser inevitável — parte das regras do jogo, por assim dizer.

O desagradável é quando ocorrem abusos no abuso.

Quem está botando a boca no trombone contra uma área específica desse problema é o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

Ele existe desde meados do ano passado e sua munição é de chumbo grosso. Reúne 43 organizações da sociedade civil com o peso, por exemplo, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e da Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais. E mais sindicatos e federações de variadas profissões — e até da CUT.

O MCCE coletou 1,3 milhão de assinaturas num documento que defende normas eleitorais que impeçam candidaturas de cidadãos com ficha suja. No Congresso, ninguém tem o desplante de se declarar contra a exigência da ficha limpa — mas há forte resistência a fazer valer as novas regras do jogo já para as eleições de 2010. O centro dessa resistência é na Câmara. Sintoma disso é o fato de que os deputados rejeitaram uma emenda aprovada pelo Senado exigindo que candidatos façam prova de boa reputação e idoneidade moral (ou seja, ficha limpa na Justiça).

O que se discute no momento — já que, claro, ninguém se declara abertamente a favor da turma de ficha suja — é o momento em que a ficha fica suja. Para o MCCE, isso acontece com a condenação em primeira instância por crime grave (como homicídio ou tráfico de drogas). Para a bancada do governo, seria necessária uma sentença de segunda instância.

A diferença entre as duas posições é bem grande. Réus com dinheiro — e, graças a isso, advogados competentes — podem adiar quase indefinidamente a segunda sentença, dando-lhes tempo suficiente para adquirir (talvez seja o verbo mais adequado) o refúgio de um mandato parlamentar.

Quem não discute a necessidade de limpar as listas de candidatos também não deve, ou não deveria, ser contra a aprovação da limpeza já para as próximas eleições. Principalmente porque o Supremo já decidiu que a lei sobre a inelegibilidade não precisa ser aprovada um ano antes das eleições.

14 setembro 2009

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14 dezembro 2008

DORA KRAMER

Dica de candidado

O Estado de S. Paulo - 14/12/2008
 

O PSDB tem, em tese, dois candidatos à Presidência da República: os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves. Ambos em campanha, ambos com estratégias diversas, embora condizentes com os respectivos objetivos.

Serra pretende mesmo disputar a sucessão de Luiz Inácio da Silva em 2010 e, por isso, diz que não é candidato. Aécio aprendeu política na família, sabe respeitar os fatos, mas sabe também a importância de se ocupar espaços e, por isso, assume postura de candidato, embora hoje a hipótese seja improvável.

Quando os dois falam favoravelmente à realização de prévias no partido em 2009, constroem publicamente o conceito da convergência no presente, mas cientes de que no modelo brasileiro prévia é sinônimo de divergência. 

Portanto, o mais lógico é que o PSDB esteja apostando no caminho da candidatura “natural” e não na contratação de um conflito futuro. Isso não quer dizer que o quadro esteja consolidado.

Há tempo pela frente, tudo pode acontecer. Inclusive as circunstâncias se alterarem e Aécio Neves, por algum motivo, ser o candidato a presidente e Serra disputar a reeleição de governador. 

Significa apenas que cada um cumpre o seu papel, todos engajados num projeto de poder cujo benefício será tão mais compartilhado entre todas as forças do partido quando mais unidas estiverem.

Geraldo Alckmin, por exemplo. Se quisesse hoje estaria preparado para dar aulas de pós-graduação sobre o ato de se esmurrar pontas de facas sem um detalhado exame prévio a respeito das condições objetivas de suportar (e superar) as conseqüências. 

No reino dos inteligentes, os erros existem para se transformar em acertos. Tanto José Serra quanto Aécio Neves, cada um com suas peculiaridades, atuam nessa esfera.

O governador de Minas acabou de demonstrar isso quando conseguiu se recuperar em tempo recorde do equívoco cometido no primeiro turno da eleição municipal em Belo Horizonte e na segunda etapa cumpriu a meta de eleger o prefeito mais harmonioso aos seus projetos. 

Transitou do fundo do poço à borda em 15 dias. Não seria no âmbito federal, num plano da dimensão da conquista da Presidência da República e com seu destino diretamente em jogo que se arriscaria a estender o passo para além das possibilidades das pernas.

Tampouco pode fazê-los menores. A noção do peso de Minas, da aceitação de que dispõe em setores organizados, da possibilidade de ampliar essa vantagem para o eleitorado e das próprias capacidades impedem Aécio Neves de se comportar como um subalterno de uma candidatura supostamente sacramentada. Portanto, no momento Aécio Neves faz o que lhe cabe fazer. 

O governador de São Paulo também. Corrige os tropeços do passado e acerta o caminho futuro. 

Por mais que Serra esteja absolutamente convicto de que a vez é dele, faz o maior esforço (em público, ao menos) para transparecer desprendimento. Trata a postulação de Aécio Neves como uma possibilidade real, defende prévias, promove encontros periódicos com políticos de vários partidos, contém o entusiasmo ante as boas novas das pesquisas e diz que são “apenas uma fotografia do momento”.

Articula com antecedência as alianças, agrega apoios sem excluir novas possibilidades, circula muito à vontade na oposição (em tese, o PT) e ultimamente acrescentou charme, simpatia e muitas entrevistas na relação com jornalistas.

Marca distância do pré-candidato quase auto-proclamado de 2002 e tem se empenhado bastante para levar em conta a legitimidade dos anseios alheios no campo da política, aí incluídos rituais afetivos antes relegados ao terreno das futilidades com as quais não é necessário perder tempo.

Junto a todos esses sinais, José Serra tem revelado aos poucos alguns aspectos do discurso do candidato de 2010 e deixado pistas de como lidaria com algumas questões, se eleito presidente.

A cobrança para que a Fundação Padre Anchieta seja mais eficiente, aumente a captação de recursos e contenha gastos poderia ser vista como uma antecipação da administração Serra para a TV Brasil.

A proposta de avaliação do funcionalismo por critério de desempenho, aprovada pela Assembléia Legislativa, seria uma dica de como o pretendente a presidente abordará a questão do aparelhamento partidário do Estado na campanha de 2010. 

Nas suas últimas entrevistas o governador de São Paulo tem dito que os gastos com custeio e o inchaço político da máquina são os maiores desafios a serem enfrentados pelo sucessor, ou sucessora, de Lula. 

Em conversas particulares, diz que tem a solução. É de se imaginar que, na essência, não sejam diferentes das adotadas no governo do Estado.

Outra pista é a abordagem que Serra faz do cronograma das obras do governo federal. Na avaliação dele, os atrasos são normais porque o processo de investimento é longo e difícil de ser implantado. “Gastar é fácil, investir é mais complicado”, disse na última quarta-feira mostrando que não brigará com a sigla PAC.

cdef

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